ARS PICTORICA revê-se no projecto ARS INTEGRATA e é parte integrante do mesmo. É um espaço de livre-pensamento e de debate de ideias, não possuindo vinculação a correntes estéticas particulares, nem filiação clubística, político-partidária, ou de cariz confessional, pelo que não assume qualquer comprometimento com os textos e opiniões expressas no seu blog e naqueles que divulga. Contamos com a vossa colaboração.
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arspictorica@gmail.com

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quinta-feira, 28 de junho de 2007

ARS PICTORICA (2) : duas exposições em foco


1. A mais falada: Colecção Berardo no CCB


O polémico (a polémica tornou-se um quase indispensável instrumento de marketing, e só por si contribui decisivamente para publicitar gratuitamente o produto) Museu /Colecção Berardo abre hoje, 2.ª feira, 25 de Junho de 2007, as suas portas ao público.


É arte meus senhores, é entrar é entrar senhorias
a arte nobilita
a arte faz curvar ministros (curvatura do círculo?)
a arte lava mais branco
(se não acreditam, leiam a "lei do combate ao branqueamento de capitais", e consultem as sentenças dos tribunais ; não consta que alguém tenha sido condenado por tráfico de obras de arte)

com ou sem o beneplácito dos poderes públicos, a colecção Champalimaud pode ser livremente leiloada pela Christie's em Londres... mas quem berardear piamente terá direito a 3 meses de indulgências

atenção "colunáveis" podeis ser ignorantes mas "não podeis ignorar" (Padre Fanhais dixit), ninguém que se preze poderá deixar de ir lá

será arte será gente? "Gente não é certamente" (Augusto Gil dixit)...

A feira das vaidades será o preço a pagar... mas os verdadeiros amantes de arte também irão inevitavelmente chocar com as intermináveis filas (os mais avisados poderão sempre optar por ir apreciar a arte noutras paragens menos concorridas).

Estar in ou estar out eis a questão (Shakespeare teria pensado neste dilema dos nossos dias?).


Hoje à noite haverá fogo de artifício (será que alguém se lembrou da música para os Royal Fireworks de Händel, ou até da mais modesta composição - republicanos Fireworks apenas, sem o Royal - de Igor Stravinsky, mas em qualquer dos casos celebrativa da suprema arte do fogo/luz que no século das luzes - ou, melhor, o das luminárias - chegou a estar vedada aos simples mortais, que não ao absoluto soberano).


Dando voz à "concorrência" institucional:

«Pedro Lapa, director do Museu Nacional de Arte Contemporânea, considera que em Portugal não há nenhuma colecção como a do comendador madeirense no que toca ao período entre 1920 e 1970. No entanto, a colecção, que ocupará o antigo centro de exposições do Centro Cultural de Belém (CCB), "não tem - assinalou - núcleos aprofundadados". "Tem uma boa obra de cada artista, mas não chega a ter uma identidade própria continuada", referiu Pedro Lapa (...) manifestou-se ainda "apreensivo" pelo facto de o Estado destinar por ano meio milhão de euros para a compra de obras de arte para uma colecção privada, numa altura em que o Museu do Chiado, que integra o Instituto de Museus e Conservação, não tem verbas para a aquisição de arte. Quanto à escolha do CCB, o responsável opinou que "a opção assumida não é a mais adequada", já que devia "construir um museu internacional de arte contemporânea, com um programa coerente e bem estruturado". "Para serem de referência internacional, deviam fazer-se colecções contemporâneas para o futuro, senão serão sempre de segundo plano", vaticinou.» (in http://www.rtp.pt/index.php?article=287721&visual=16 )


Dizer que para esta exposição se esperam mais de 400 mil visitantes/ano (compreendendo turistas e aqueles que não deixarão de lá ir mais do que uma vez), pode parecer muito mas significa que esta vai passar ao lado da maioria dos portugueses (estimados em cerca de 12 milhões de residentes em Portugal), resta saber se terá ou não impacto significativo no turismo e na promoção internacional do país.


Relativamente ao seu conteúdo contamos podermos pronunciar-nos (nós e/ou outros amigos que o queiram fazer) logo que possível (temos horror a filas intermináveis, por isso não é certo que seja para breve, mas...)


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A mais urgente: ALTERNATIVA ZERO na Fundação Arpad-Szenes/Vieira da Silva


A Alternativa foi uma bem sucedida forma promocional que se pretendeu "provocatória" de afirmação pública de um conjunto de artistas novos e outros menos novos (sob a batuta do "maestro" Ernesto de Sousa, v. http://pt.wikipedia.org/wiki/Ernesto_de_Sousa) que nos idos anos 70 do século passado, mais concretamente no épico período revolucionário pós-25 de Abril se juntaram em jeito de manifesto para alcançar a notoriedade e, por arrastamento, a imortalidade.

O Zero é o Nada que é Tudo, e por isso as tendências foram as mais variadas e porventura até contraditórias (figurativo versus abstracto, profusionismo versus minimalismo, mas todos em clara afirmação de ruptura com a arte oficial da recém-derrubada ditadura, incluindo os decanos contemporâneos dessa construção híbrida (por vezes labiríntica) que junta, como sucedera já no período barroco, forma plástica e arte poética de vanguarda, dita poesia visual experimental, como Ana Hatherly e Melo e Castro). Estes e outros irão lá estar, e também o Grupo de Música Contemporânea de Lisboa (cujo fundador Jorge Peixinho, também ele presente na Alternativa Zero, já habita o panteão dos deuses). Apressem-se, pois, aqueles que quiserem ver alguns dos hercúleos semideuses que ainda permanecem entre nós e estão, ainda, dispostos a aturarem-nos.

Os iconoclastas de então (est)(s)ão hoje artistas quase todos institucion(ais)(lizados), mas não deixa de ser curioso que o comissário da presente evocação seja um professor da... Universidade Católica!!! Parabéns, então, a Paulo do Vale e à Universidade Católica! Assim como a Isabel Alves, viúva de José Ernesto de Sousa (1921-1988), arquitrave-mestra de inúmeras inicativas e incansável defensora do património artístico contemporâneo (onde tantos com maiores obrigações falham), que preservou e disponibilizou "a sua memória, fotografias e filmes inéditos sobre a própria exposição e o seu organizador".

Fundação Árpád Szenes/Vieira da Silva
(v . http://pt.wikipedia.org/wiki/Museu_Arpad_Szenes_-_Vieira_da_Silva)
Praça das Amoreiras, 56/58 - 1250-020 Lisboa
tel: 21 388 00 44 /53
e-mail: fasvs@fasvs.pt
website: http://www.fasvs.pt/
Horário (geral): seg-sáb: 11h00-19h00 ; dom: 10h00-18h00


Haverá alternativa para a ZERO?

Programa:

5.ª feira, 28 Junho – A ARTE EM FESTA
18h – Inauguração
19h – Que alternativa? a importância da AZ / Delfim Sardo e artistas que participaram na Alternativa Zero

6.ª feira, 29 Junho – A PRÓ-VOCAÇÃO DO ZERO
18h – Panorama 77 / Emília Tavares
Alternativa Zero – Que zero? / Ernesto Melo e Castro
Dos anos 70 aos 80: continuidades e rupturas / Luís Serpa

Sábado, 30 de Junho – ERNESTO DE SOUSA: O DETONADOR
16h30m – O Operador Estético / Margarida Medeiros (artista), Ricardo Nicolau (crítico), Nuno Faria (curador)
Intervalo
18h30m – Ernesto, o ornintorrinco honesto.
Mantras e polípticos - uma pedagogia? / Pedro Proença
Bolsa Ernesto de Sousa: 15 anos / Luís Silva e Emanuel Dimas Pimenta
Intervalo
20h30 – Performance Jardim das Amoreiras / Adriana Sá e André Gonçalves (ex-bolseiros Bolsa ES)

Alternativa - 0
Haverá - 1

Qual?

Abaixo à fome cultural, venha a fartura!!!

quarta-feira, 27 de junho de 2007

ARS PICTORICA (1) : Retrospectiva Gulbenkian



BandPor (2001) / Pedro Zink


50 ANOS DE ARTE PORTUGUESA na F.C.G.


No âmbito das comemorações do seu 50.º aniversário, a Fundação Calouste Gulbenkian achou e bem (aplausos!) realizar uma exposição retrospectiva da arte portuguesa que tem vindo a beneficiar do seu apoio, o que, obviamente, não é o mesmo que falar de "50 anos de arte portuguesa" título-chavão mas que não é certamente chave da arte portuguesa das 5 últimas décadas, a não ser de uma porta mais pequena daquela que pretende anunciar, já que apenas se trata efectivamente de uma "selecção de centena e meia de obras da colecção do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão escolhidas em articulação com a documentação existente sobre os artistas apoiados, em subsídios e bolsas, pela Fundação desde 1957 até à actualidade" (cf. http://www.gulbenkian.org/exposicoes.asp ).

Com efeito, faltam alguns nomes essenciais (conhecidos do grande público ou não), porquanto o(a)s "olheiros" (expressão que pedimos emprestada à gíria futebolista) da Fundação Gulbenkian, por vezes, anda(ra)m distraído(a)s, mas mesmo assim vale a pena dar lá uma saltada para revisitar os consagrados e espreitar outros que não tanto (o que não se traduz em juízo de valor) .

Transcrevendo:

«"50 ANOS DE ARTE PORTUGUESA. Exposições. De 06/06/2007 a 09/09/2007 . Terça, quarta e domingo: 10h00 - 18h00 quinta, sexta e sábado: 10h00 às 22h00. Salas de exposições temporárias no piso 0 e 01 da Sede.

Esta exposição de arte portuguesa, que integra o programa das Comemorações do Cinquentenário da Fundação Calouste Gulbenkian, é uma iniciativa conjunta do Serviço de Belas-Artes e do Centro de Arte Moderna, com curadoria de Raquel Henriques da Silva, em colaboração com as curadoras-adjuntas Ana Filipa Candeias e Ana Ruivo.

A exposição apresenta uma selecção de centena e meia de obras da colecção do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão escolhidas em articulação com a documentação existente sobre os artistas apoiados, em subsídios e bolsas, pela Fundação desde 1957 até à actualidade. Este cruzamento, colecção e arquivo, permite que as obras de arte possuam um lastro significante, vindo da voz dos seus próprios criadores, através dos seus relatórios de trabalho.

Deste modo, 50 anos de arte portuguesa pretende ser uma peculiar celebração: a de um intenso convívio entre uma instituição e largas dezenas de artistas – conjunto vasto de autores com elevado reconhecimento na História de Arte Portuguesa – que envolve apreço, mútua dádiva, estabelecimento de novas prioridades e algumas provocações.

Visitas para grupos organizados mediante marcação prévia – tel. 217823620 (marcações 2ª a 6ª das 15:00 às 17:00) Idiomas: português, inglês, francês e alemão»



Ars Integrata esteve lá no passado domingo, dia 17, para assistir à visita guiada por Ana Gonçalves, que apenas conhecíamos como jovem pintora muito promissora, mas que também se revelou uma excelente guia para esta exposição, bem documentada, muito assertiva e com excelente colocação de voz. No final seguimos para um restaurante das proximidades (no topo do Parque Eduardo VII, vista para o lago), com Ana Gonçalves que muito amavelmente acedeu ao nosso convite para um saudável convívio entre amigos do Ars Integrata e para um balanço do que "vimos, ouvimos e lemos / não podemos ignorar..." (Padre Francisco Fanhais dixit)


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n.b.: qualquer semelhança entre a obra de Pedro Zink, então com 8 anos, acima reproduzida (print. 2001) e o cartaz da F.C.G. para assinalar a exposição será pura coincidência, mas gostaríamos de saber... qual preferem?


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p.s.: pouco antes do 25 de Abril de 1974, João Zink (o "Jimi", lembram-se?) teve a polícia no seu encalço (valeu-lhe na ocasião o amigo/líder da claque de apoio, "TóPê" e o seu grupo de motards, o que não impediria a sua posterior prisão pela PIDE), por se ter permitido tocar em concerto público uma variação do hino nacional com pedal de wah-wah (alla Hendrix), hoje é uma poderosa instituição que promove uma variação em torno desse outro símbolo nacional: a bandeira. Será esta a prova definitiva de que vivemos em democracia?

ARS PICTORICA (0)


ARS PICTORICA releva do conceito de que a arte do desenho e da cor é parte essencial da vida, sendo esta considerada uma forma de arte total.

ARS PICTORICA proclama que a pintura como imitatio da natureza não é uma forma de arte mas sim de mero artesanato - sem desprimor do apreço qualitativo que este possa merecer -, mas que a arte é antes de mais uma forma plástica de filosofia, suscitando questões, abrindo portas para o conhecimento do indizível, mas levantando sempre novas interrogações, (re)criando cenários alternativos divergentes ou não da natureza, mas sempre dialogantes com ela.

Com efeito, entendemos que pintura é desenho+cor organizados pelo ser humano, como artifício da sua forma de (se manif)estar e de transformar o mundo que o rodeia, superando a natureza da sua condição animal, para afirmar a sua racionalidade.

ARS PICTORICA releva que a arte da pintura é uma manifestação não só reveladora do ilimitado potencial criativo do ser humano como essencial à sua própria existência e que se revela particularmente envolvente quando se combina com outras formas de arte (arquitectura, escultura, artes decorativas, mas também outras como a dança, a ópera, etc.).

Consequentemente, ARS PICTORICA revê-se no projecto ARS INTEGRATA e é parte integrante do mesmo.

ARS INTEGRATA é um projecto aberto assente na criação artistica multidisciplinar, fundado por David Zink a partir de um ensemble homónimo - de dimensão e composição variáveis, mas com um "núcleo duro", misturando vários géneros e formas artísticas, compreendendo elementos populares e eruditos...... e pretende ser também uma associação emergente e um espaço de discussão, conhecimento, troca de experiências e informação, abrangendo todas as formas de arte (incluindo a música, a dança, as «belas artes», a literatura e a poesia, etc.), aberto tanto a artistas executantes, como a investigadores e ao publico em geral interessado nestas matérias.

ARS PICTORICA pauta-se por critérios de elevada qualidade artística (tanto nos plano estético e criativo, como técnico), mas não discrimina escolas, estilos ou géneros artísticos, do figurativo ao abstracto. ARS PICTORICA oferece uma plataforma de partilha e discussão com todos os que se interessam por esta forma de arte (criadores, críticos, "consumidores" e simples apreciadores).

A sua colaboração é essencial, contribua e/ou divulgue aos vossos amigos.
Somos fiéis ao lema "Trás outro amigo também".

N.B.: ARS PICTORICA é um espaço de livre-pensamento e de debate de ideias - independentemente das seus colaboradores -, não possuindo vinculação a correntes estéticas particulares, nem comprometimento clubístico, político-partidário, ou de cariz confessional, pelo que não assume qualquer comprometimento com os textos e opiniões expressas e/ou praticadas tanto no seu blog como naqueles que divulga (idem, para sites).

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From Science & Art / Jorge Castro (poem) & David Zink (music)

Rei / Jorge Gonçalves (design) & Rui Zink (script)