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sábado, 24 de dezembro de 2011

quarta-feira, 6 de julho de 2011

ARS PICTORICA (19): Painture & Fado inspiration : the sign of Portugal

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ECOS DO FADO NA ARTE PORTUGUESA - SÉCS. XIX-XX


Inauguração da exposição: 7 de Julho de 2011, pelas 19horas
Sala do Risco do Pátio da Galé
Terreiro do Paço - Lisboa


A triste sina do Fado Português - o autêntico, "nado e criado em Lisboa", já que do Brasil ao Japão esta "estranha forma de vida" parece estar em toda a parte por onde navegam portugueses contaminando epidemicamente outros povos com a sua melodia gingona e os trinados metálicos da guitarra - assim como percorre os caminhos da poesia, das cantigas de amigo a Fernando Pessoa e mais além, sem deixar de abraçar Camões, tem tocado também diversos pintores, que se aventuram nas ruelas da má-fama ou tão só nas casas de fado "vadio" onde se canta "até que a voz me doa".

A questão que se coloca é a de saber se os elementos pictoricos fadistas contituem um mero adereço pitoresco, seja para consumo interno dos tiffosi ou para "turista ver", ou são inspiradores decisivos para a criação de uma estética "fadista", seja ela seguidista e ornamental ou interaja de forma crítica com o objecto de observação e aponte caminhos de estéticos distintos do vulgar mainstream.

Nada como aceitar o convite e tirar a limpo a nossa interrogação (e o quadro de Amadeo de Sousa Cardozo que foi seleccionado para publicitar o evento, constitui só por si um excelente estímulo para lá irmos). Mas, entre o inevitável "O Fado" de Malhoa, nas suas versões de 1909 e 1910, e a sua reeinterpretação contemporânea pelo saudoso João Vieira, ou o iconoclasta "Anti-fadismo" (meados do séc. XX) do surrealisante Cândido Costa Pinto, para já não falar de recentes obras inéditas, entre as quais recentissimas telas de Júlio Pomar, são muitos outros os motivos para fazer desta exposição um dos grandes acontecimentos artísticos deste Verão (cortes no orçamento para a cultura aparte).

P.S.: Pela nossa parte, aceitámos o honroso convite para a inauguração e aqui fica este vídeo para memória futura, o qual, diga-se em boa verdade, contrariamente ao excelente catálogo não faz plena justiça à importância e qualidades desta exposição a não perder.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

ARS PICTORICA (18): Ana Gonçalves - uma pintora tocada pelo Hatha Yoga


HA, THA E OUTRAS PAISAGENS

OU A PINTURA «HATHA YOGA» DE ANA GONÇALVES


Câmara Municipal de Lagoa (Açores)
Edifício dos Paços do Concelho
De 24 de Junho a 24 de Julho






ANA GONÇALVES expõe nos Açores – onde assentou residência artística – a sua pintura serena (mas nunca inerte) plena de inspiração HATHA YOGA – disciplina da qual é também mestre – e de reflexos das ancestrais paisagens açorianas onde também o mito da Atlântida se casa com o olhar sobre as águas profundas do alto de um Pico que se eleva acima das nuvens, e o voo do Corvo transporta o olhar como num tapete mágico.



O título da exposição radica, aliás, na simbólica do Hatha Yoga, que corresponde à união do Sol (HA) e da Lua (THA), gerada pelos sopros prana e apana na busca do equilíbrio entre as forças solar e lunar, do masculino e do feminino, união conducente à fecundidade, e consequentemente à criatividade em toda a sua plenitude material e imaterial.



É, pois uma pintura que visa tanto o despertar dos sentidos como a elevação espiritual, revelando no plano estético a transcendência da matéria, e em que o objecto pictural se transforma num agente do despertar para novas formas de consciência, em que o ego cede lugar à dimensão criativa e universal do infinito.



Mas, por agora, só está acessível aos privilegiados que vivem ou podem deslocar-se aos Açores!...


Fake selfportrait / by unknown, made of Anna's artistic material




«HA, THA E OUTRAS PAISAGENS»
por Ana Gonçalves


Circularidades
Se, das impressões que guardo da ilha de São Miguel, tivesse que seleccionar a que maior impacto provocou em mim, escolheria a passagem do tempo, vivida através da observação diária dos ciclos da Natureza.

As árvores, nuas ou vestidas, a migração das aves e o eterno retorno das flores e dos animais, aparecendo e desaparecendo nos pastos, os seus percursos, e os dos homens, desenhados no chão de erva fresca, o vai-e-vem das ondas do mar, o céu movendo-se por cima de nós, azul, verde, cinza, rosa… tudo isso numa só imagem, a do círculo, lançou o mote a esta exposição.

De acordo com o Dictionnaire des Symboles de Jean Chevalier e Alain Gheerbrant
[1], o círculo representa «o mundo distinto do seu princípio». Se considerarmos o ponto como origem simbólica primordial, o círculo representará (enquanto extensão daquele), não a sua «perfeição escondida» (pois o ponto é «perfeito, homogéneo e indivisível»), mas antes o «efeito criado» ou, dito de outro modo, a criação. (1982:191)

Ha, Tha e Outras Paisagens
O título desta exposição poderia bem ter sido «O Sol, a Lua e Outras Paisagens». No entanto, não era o Sol, estrela à volta da qual nove (ou mais) planetas circulam, ou a Lua, satélite que continuamente gira em volta da Terra, que desejava evocar. Era e é, tão só, a associação destes astros – que, desde sempre, fascinaram o ser humano – a uma ideia, mais interna e, porventura, subconsciente, de polaridade.

Segundo os autores supracitados, o sol é princípio activo, na medida em que irradia luz, e a lua princípio passivo, pois apenas reflecte a luz do sol. E assim, a partir daqui se podem multiplicar as aplicações simbólicas:

(…) Na medida em que a luz representa o conhecimento, o sol está para o conhecimento intuitivo, imediato; a lua, para o conhecimento reflexivo, racional, especulativo. Consequentemente, o sol e a lua correspondem respectivamente ao espírito e à alma (spiritus et anima), e aos seus lugares: o coração e o cérebro. Estes são a essência e a substância, a forma e a matéria (…). (1982:892)

Mais:

(…) Os olhos dos «heróis primordiais» [em cultos indianos e chineses] são sol e lua (olho direito = sol; olho esquerdo = lua) e, embora as correspondências se invertam no caso de algumas etnias, esta ligação aos olhos remete para uma outra: o olho esquerdo corresponde ao futuro, o olho direito ao passado; assim o sol ao intelecto, a lua à memória. (1982:893)


Finalmente:

(…) Estes olhos solar e lunar correspondem aos dois nadi [canais de circulação energética] laterais do Yoga: ida lunar e pingala solar. (…) O Yoga é a união do sol e da lua (ha e tha, de onde Hatha Yoga), representados pelos sopros prana e apana, ou ainda pelo sopro e pelo sémen, que são o fogo e a água. (…) (idem)

Era, portanto, uma dinâmica de fértil oposição e complementaridade, entre estes princípios fundamentais, que interessava contemplar. Pelo caminho, porém, novos dados se juntaram ao jogo de hesitação e escolha, de exaltação e silêncio, que todo o fazer implica. Notas de cor translúcidas e fragmentos de um arquivo pessoal de imagens se foram insinuando e assim surgindo, durante o processo, como «outras paisagens», para além dos ciclos do sol e da lua.

E é essa série de trabalhos – momento extraído de um movimento contínuo e, portanto, também ele, circular – que esta exposição aqui reúne e apresenta.

Ana Gonçalves
Junho de 2011



[1] CHEVALIER, Jean e GHEERBRANT, Alain (1982), Dictionnaire des Symboles. Paris: Robert Lafont / Jupiter. Tradução livre e adaptada de Ana Gonçalves.-

From Science & Art / Jorge Castro (poem) & David Zink (music)

Rei / Jorge Gonçalves (design) & Rui Zink (script)