Who's the enlighted boy?

Inauguração da exposição: 7 de Julho de 2011, pelas 19horas
Sala do Risco do Pátio da Galé
Terreiro do Paço - Lisboa
A triste sina do Fado Português - o autêntico, "nado e criado em Lisboa", já que do Brasil ao Japão esta "estranha forma de vida" parece estar em toda a parte por onde navegam portugueses contaminando epidemicamente outros povos com a sua melodia gingona e os trinados metálicos da guitarra - assim como percorre os caminhos da poesia, das cantigas de amigo a Fernando Pessoa e mais além, sem deixar de abraçar Camões, tem tocado também diversos pintores, que se aventuram nas ruelas da má-fama ou tão só nas casas de fado "vadio" onde se canta "até que a voz me doa".
A questão que se coloca é a de saber se os elementos pictoricos fadistas contituem um mero adereço pitoresco, seja para consumo interno dos tiffosi ou para "turista ver", ou são inspiradores decisivos para a criação de uma estética "fadista", seja ela seguidista e ornamental ou interaja de forma crítica com o objecto de observação e aponte caminhos de estéticos distintos do vulgar mainstream.
Nada como aceitar o convite e tirar a limpo a nossa interrogação (e o quadro de Amadeo de Sousa Cardozo que foi seleccionado para publicitar o evento, constitui só por si um excelente estímulo para lá irmos). Mas, entre o inevitável "O Fado" de Malhoa, nas suas versões de 1909 e 1910, e a sua reeinterpretação contemporânea pelo saudoso João Vieira, ou o iconoclasta "Anti-fadismo" (meados do séc. XX) do surrealisante Cândido Costa Pinto, para já não falar de recentes obras inéditas, entre as quais recentissimas telas de Júlio Pomar, são muitos outros os motivos para fazer desta exposição um dos grandes acontecimentos artísticos deste Verão (cortes no orçamento para a cultura aparte).
P.S.: Pela nossa parte, aceitámos o honroso convite para a inauguração e aqui fica este vídeo para memória futura, o qual, diga-se em boa verdade, contrariamente ao excelente catálogo não faz plena justiça à importância e qualidades desta exposição a não perder.
HA, THA E OUTRAS PAISAGENS
OU A PINTURA «HATHA YOGA» DE ANA GONÇALVES
Câmara Municipal de Lagoa (Açores)
Edifício dos Paços do Concelho
De 24 de Junho a 24 de Julho
ANA GONÇALVES expõe nos Açores – onde assentou residência artística – a sua pintura serena (mas nunca inerte) plena de inspiração HATHA YOGA – disciplina da qual é também mestre – e de reflexos das ancestrais paisagens açorianas onde também o mito da Atlântida se casa com o olhar sobre as águas profundas do alto de um Pico que se eleva acima das nuvens, e o voo do Corvo transporta o olhar como num tapete mágico.
Fake selfportrait / by unknown, made of Anna's artistic material
«HA, THA E OUTRAS PAISAGENS»
por Ana Gonçalves
Circularidades
Se, das impressões que guardo da ilha de São Miguel, tivesse que seleccionar a que maior impacto provocou em mim, escolheria a passagem do tempo, vivida através da observação diária dos ciclos da Natureza.
As árvores, nuas ou vestidas, a migração das aves e o eterno retorno das flores e dos animais, aparecendo e desaparecendo nos pastos, os seus percursos, e os dos homens, desenhados no chão de erva fresca, o vai-e-vem das ondas do mar, o céu movendo-se por cima de nós, azul, verde, cinza, rosa… tudo isso numa só imagem, a do círculo, lançou o mote a esta exposição.
De acordo com o Dictionnaire des Symboles de Jean Chevalier e Alain Gheerbrant[1], o círculo representa «o mundo distinto do seu princípio». Se considerarmos o ponto como origem simbólica primordial, o círculo representará (enquanto extensão daquele), não a sua «perfeição escondida» (pois o ponto é «perfeito, homogéneo e indivisível»), mas antes o «efeito criado» ou, dito de outro modo, a criação. (1982:191)
Ha, Tha e Outras Paisagens
O título desta exposição poderia bem ter sido «O Sol, a Lua e Outras Paisagens». No entanto, não era o Sol, estrela à volta da qual nove (ou mais) planetas circulam, ou a Lua, satélite que continuamente gira em volta da Terra, que desejava evocar. Era e é, tão só, a associação destes astros – que, desde sempre, fascinaram o ser humano – a uma ideia, mais interna e, porventura, subconsciente, de polaridade.
Segundo os autores supracitados, o sol é princípio activo, na medida em que irradia luz, e a lua princípio passivo, pois apenas reflecte a luz do sol. E assim, a partir daqui se podem multiplicar as aplicações simbólicas:
(…) Na medida em que a luz representa o conhecimento, o sol está para o conhecimento intuitivo, imediato; a lua, para o conhecimento reflexivo, racional, especulativo. Consequentemente, o sol e a lua correspondem respectivamente ao espírito e à alma (spiritus et anima), e aos seus lugares: o coração e o cérebro. Estes são a essência e a substância, a forma e a matéria (…). (1982:892)
Mais:
(…) Os olhos dos «heróis primordiais» [em cultos indianos e chineses] são sol e lua (olho direito = sol; olho esquerdo = lua) e, embora as correspondências se invertam no caso de algumas etnias, esta ligação aos olhos remete para uma outra: o olho esquerdo corresponde ao futuro, o olho direito ao passado; assim o sol ao intelecto, a lua à memória. (1982:893)
Finalmente:
(…) Estes olhos solar e lunar correspondem aos dois nadi [canais de circulação energética] laterais do Yoga: ida lunar e pingala solar. (…) O Yoga é a união do sol e da lua (ha e tha, de onde Hatha Yoga), representados pelos sopros prana e apana, ou ainda pelo sopro e pelo sémen, que são o fogo e a água. (…) (idem)
Era, portanto, uma dinâmica de fértil oposição e complementaridade, entre estes princípios fundamentais, que interessava contemplar. Pelo caminho, porém, novos dados se juntaram ao jogo de hesitação e escolha, de exaltação e silêncio, que todo o fazer implica. Notas de cor translúcidas e fragmentos de um arquivo pessoal de imagens se foram insinuando e assim surgindo, durante o processo, como «outras paisagens», para além dos ciclos do sol e da lua.
E é essa série de trabalhos – momento extraído de um movimento contínuo e, portanto, também ele, circular – que esta exposição aqui reúne e apresenta.
Ana Gonçalves
Junho de 2011
[1] CHEVALIER, Jean e GHEERBRANT, Alain (1982), Dictionnaire des Symboles. Paris: Robert Lafont / Jupiter. Tradução livre e adaptada de Ana Gonçalves.-
Christmas upgrade (2010) / David Zink
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BARTOLOMEU REVISITADO NO CAMB
No próximo dia 18 de Abril de 2010, pelas 15h, Ars Pictorica promove uma "visita-tertúlia" à Exposição da obra de Bartolomeu Cid dos Santos (1931-2008), que se encontra patente no CAMB - Centro de Arte Manuel de Brito (sediado no Palácio Anjos, em Algés, muito próximo da estação de comboios, frente ao jardim).
Esta iniciativa, que tinha sido prevista para o dia 21 de Março, foi adiada por nesta data se celebrar o Dia Mundial da Poesia, ficando assim por justa causa marcada para meados do mês de Abril, no Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, aprovado pela UNESCO.
Trata-se de uma exposição a não perder, daquele que é talvez um dos melhores gravadores que o século XX viu surgir e, sem dúvida um dos mais significativos artistas portugueses de renome mundial.
A visita será "pivoteada" pela Mestre em Teorias da Arte, Elisa Soares, mas à semelhança das propostas anteriores outros contributos multidisciplinares são esperados e, sobretudo, conta-se que a expressão de pontos de vista diferentes seja estimulada.
Paula Rego's Story House (2010) / (re)designed by David Zink
Natalis Angelorum et Lapis Philosophorum / David Zink fecit MMIX
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ARS INTEGRATA, promove no próximo domingo, dia 6 de Setembro, pelas 14h30, uma visita colectiva à referida exposição inaugural, tendo para o efeito convidado dois historiadores de arte que aceitaram o desafio de serem os pivots do que se propõe seja, mais do que uma visita guiada, uma discussão aberta a quantos nela queiram participar.
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ARS PICTORICA associa-se com entusiasmo a esta iniciativa.
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A não perder!!!
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Apareçam!
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No final, os presentes serão convidados a participar num “mergulho surrealista” na praia de Carcavelos, para cuja concretização recomenda-se levar alguns adereços de cena (como sejam: fato de banho e toalha).
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Watch me well! (2009) / David Zink
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Dalí himself in a live show (youtube courtesy)
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!, 2, 3... People are numbers! (s. law no. 1/xxi) (2009) / David Zink
a visual poem published in http://arspoetica2u.blogspot.com/
inspired by world (dis)governments
see more numbers in: http://laborsta.ilo.org/
and letter poem in:
http://arspoetica2u.blogspot.com/2009/03/ars-poetica-59-people-are-numbers-s-law.html
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Tratando-se de um artista que tem vindo a encontrar no azulejo um meio privilegiado de expressão, com obras de vulto em diversos espaços públicos, como sejam a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa ou a Estação Ferrovária de Campolide, na mesma capital, importará estar atentos a este novo capítulo do seu trabalho, pelo que Ars Pictorica tem também o prazer de se associar à divulgação do mesmo.
Galeria Ratton
De segunda a sexta feira 10h-13h 15h-19,30h
Fernando Pessoa [na Brasileira do Chiado] / Lagoa Henriques
In memoriam LAGOA HENRIQUES (1923-2009)
Faleceu hoje o escultor Lagoa Henriques (1923-2009). A arte portuguesa está de luto, ficou de momento mais triste. Porém, há que dizê-lo não ficou mais pobre, porque o escultor nos deixou não apenas o produto do seu trabalho mas semeou novas gerações que estão a dar frutos e mais hão-de vir…
Como artista permaneceu largamente tributário de fórmulas académicas, fiel aos seus mestres Barata Feyo (1899-1990), Leopoldo de Almeida (1898-1975) e Marino Marini (1901-1980), excepção talvez feita ao seu Antero de Quental, onde exprime uma vitalidade que percorre caminhos “expressionistas” trilhados, avant la lettre, desde a Renascença por um Michelangelo Buonarroti (1475-1564) nos seus “escravos” (mas não na Pietá), no romântico Antoine-Louis Barye (1796-1875), e assumidamente projectados com Auguste Rodin (1840-1917) e Bourdelle (1861-1929), entre outros.
Cruzamo-nos amiúde com o seu Fernando Pessoa, implantado à mesa de um café no Chiado, próximo da Faculdade de Belas Artes onde leccionou. E, esta obra bastaria para o imortalizar (embora nem todos saibam ou procurem saber quem foi o seu autor, em particular os turistas que ali acorrem a fotografá-la). Mas em nossa opinião, Lagoa Henriques, o homem, superava mais ainda o escultor, que mercê da sua simplicidade generosa nunca quis impor-se ao mundo (o que advinha da sua grandeza natural).
Discípulo do filósofo e pedagogo Agostinho da Silva (1906-1994), que terá sido quem o incentivou a seguir o curso de escultura na então Academia de Belas Artes de Lisboa, foi curiosamente como professor das últimas gerações e divulgador que a sua acção foi mais profícua. O seu próprio atelier na Av.ª da Índia (Lisboa), era também um privilegiado espaço de tertúlia. Os seus dotes de comunicador ficaram aliás bem patentes numa série televisiva que a RTP exibiu, e seria agora a altura de repor, não apenas em jeito de merecida homenagem, mas como verdadeiro serviço público ao país.
Links:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lagoa_Henriques (biografia)
http://www.lagoahenriques.com/01.htm (site dedicado)
http://blogpt.josesaramago.org/2009/02/22/morreu-lagoa-henriques/
(texto de José Saramago)
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http://www.museubordalopinheiro.pt/
Só por si a iniciativa de exibir um conjunto significativo da importante obra gráfica de João Abel Manta, é assaz louvável. Artista dos maiores que Portugal conheceu neste domínio, não apenas pelas suas elevada qualidades nos planos estético e técnico, com um design marcadamente pessoal inovador, mas também pela sagacidade da sua crítica mordaz exercida corajosamente nas condições particularmente difíceis da ditadura do “Estado Novo” – atente-se na série “Caricaturas portuguesas dos anos de Salazar” e em obras como a “Indigestão por falta de condimentos histórico-patológicos” (1970) –, e prosseguida em novos moldes no pós-25 de Abril, propiciando uma reflexão bem humorada sobre as contradições do processo de democratização da sociedade portuguesa, apontando tanto os seus defeitos como as virtudes, as suas misérias e grandezas (é verdadeiramente impagável a trilogia “O boato” (1974): 1. Técnica individual ou progressão em cadeia ; 2. Técnica de grupo ou a estratégia do café ; e 3. Técnica literária ou o jornalismo sensacionalista).
Num registo mais estritamente ilustrativo da sua obra, avultam os retratos de escritores portugueses (Luís de Camões, Almeida-Garrett, Eça de Queirós, Camilo Pessanha, Cesário Verde, Mário de Sá-Carneiro, António Botto, José Gomes Ferreira, José Cardoso Pires, etc.) e um brasileiro (Jorge Amado) mas nem aqui o artista foi menos acutilante, revelando uma enorme capacidade de filtrar os traços de carácter e não apenas os fisionómicos, bem como de personalidades históricas (rei D. Sebastião, Marquês de Pombal). Tudo boas razões para a visita, além de muitas outras que certamente irão surpreender o espectador.
Acresce que em Portugal raras vezes vemos uma exposição bem montada e com informação adequada ao visitante. Na sua aparente simplicidade, revela pela clareza dos itinerários propostos, uma competência profissional que não abunda nos nossos museus e espaços de exposição de arte. É de salientar a correcta colocação das obras e a ordenação das mesmas, bem como a legendagem clara e bem visível mas sem inusitadas ofuscações, tudo contribuindo para uma boa legibilidade estética e informativa.
Estão, pois, de parabéns o Museu Bordalo Pinheiro, a sua direcção e o comissário desta exposição João Paulo Cotrim.
Hélàs, há que registar um pequeno senão que não anula o que dissemos: é certo que as obras de João Abel Manta falam por si, mas não teria sido despiciendo incluir textos de explanação e enquadramento crítico nos painéis que segmentam tematicamente a exposição.
JZ /18-11-2008-
Dez anos depois do amplo sucesso de A Arte Suprema, António Jorge Gonçalves (desenhos) e Rui Zink (texto), já então uma obra inovadora, que combinava texto ficcional, desenho, fotografia, colagem e técnicas digitais, apresentam um novo "romance gráfico, poético, triste, feliz, onde o mito de Frankenstein é revisitado a uma nova luz: a de que remendos e enxertos podem, além de criar monstros, salvar vidas", e cuja plasticidade se inspira no formato manga (banda desenhada japonesa) e noutros elementos da cultura nipónica, o que é assumido pelos autores "em jeito de homenagem".
Quem não esteve no Jardim de Inverno do Teatro São Luiz na noite do passado dia 29 de Outubro, perdeu a oferta de um excelente saké, mas também as sugestivas e bem-humoradas explanações de António Jorge Gonçalves e Rui Zink sobre o seu trabalho de pesquisa efectuado na viagem ao Japão em 2005 (na qual foram bolseiros da Fundação Oriente) que esteve na base da criação do Romance Gráfico REI. Foi uma noite "de palavras, imagens e música sobre a cultura japonesa e suas várias declinações, em particular a forma ocidental de nos debruçarmos sobre ela", e que teve como guia espiritual o escritor Wenceslau de Moraes (Lisboa, 1854-Tokushima, 1929) .
Todavia, António Jorge Gonçalves produziu para todos nós (os presentes que puderam assistir em 1.ª mão, em grande ecrã, e os ausentes que o poderão visualizar através da internet) um excelente trailer (vídeo) que é em em si mesmo uma obra de arte, ainda que tributária do livro e pensada para a sua promoção. Com efeito, esta vale também por si, ultrapassando o objectivo que a suscitou, ao ter criado uma feliz unidade estética a partir da combinação do elemento pictórico (posto em movimento fílmico), projectando uma sequência narrativa sem palavras (presença invisível do texto) condensada mas capturando o essencial, e a que o artista juntou uma banda sonora musical (ausente no livro, claro está), que casa perfeitamente com o campo visual que nos é oferecido (desafiando a realidade, provando que afinal ainda há casamentos perfeitos).
Rei : romance gráfico / António Jorge Gonçalves e Rui Zink. Porto : Edições Asa, 2007, 328 p.
Vídeo promocional:
websites dos autores:
- Antonio Jorge Goncalves: http://www.antoniojorgegoncalves.com/wwww.subway-life.com
- Rui Zink: http://ruizink.com/livros/
Sobre Wenceslau de Moraes ver: http://pt.wikipedia.org/wiki/Wenceslau_de_Moraes
Bolo-REI e Livro-REI
mais uma doce carícia
excelentes iguarias, eu sei
para esta Quadra Natalícia!
p.s.: pouco antes do 25 de Abril de 1974, João Zink (o "Jimi", lembram-se?) teve a polícia no seu encalço (valeu-lhe na ocasião o amigo/líder da claque de apoio, "TóPê" e o seu grupo de motards, o que não impediria a sua posterior prisão pela PIDE), por se ter permitido tocar em concerto público uma variação do hino nacional com pedal de wah-wah (alla Hendrix), hoje é uma poderosa instituição que promove uma variação em torno desse outro símbolo nacional: a bandeira. Será esta a prova definitiva de que vivemos em democracia?